Lagoa Digital
Mais de uma centena de quilômetros de redes de fibra óptica instalados nas pacatas ruas e distritos rurais de Lagoa dos Três Cantos, no Planalto Médio, vão fazer do pequeno município gaúcho uma referência em universalização do acesso à internet no País. A estrutura vai garantir a oferta de banda larga para todas as residências das áreas urbana e rural, além de permitir o acesso à rede em órgãos públicos e a criação de uma área de internet sem fio gratuita na Parque da Lagoa, na praça central da cidade.
A iniciativa faz parte do projeto Digitallagune – Lagoa dos Três Cantos Digital, que aposta na ampliação do acesso à internet como forma de gerar oportunidades de trabalho à população, além de qualificar o atendimento de saúde e a rede de ensino. Para viabilizar o empreendimento, a administração fez um acordo com a Telebras. O passo seguinte foi a busca de financiamento para a rede, garantido no ano passado. A prefeitura inscreveu o projeto em um edital do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Dos 600 concorrentes, 46 foram contemplados, sendo o Digitallagune escolhido como a melhor proposta.
Pelo convênio, o MCT irá liberar R$ 300 mil necessários para a implantação da primeira fase do projeto – a prefeitura vai desembolsar R$ 12 mil -, cujas obras já estão em andamento. No início do ano, a prefeitura assinou contrato para as obras de construção de oito quilômetros de redes de fibra óptica para cobrir toda a área urbana e mais 20 quilômetros que irão até o acesso do 1º Distrito, na zona rural. A previsão é de que a obra seja concluída até março. Depois, será realizada a licitação de um provedor para gerenciar a rede, seguindo parâmetros do Plano Nacional de Banda Larga, do governo federal. As residências terão de pagar R$ 35,00 mensais pela conexão com velocidade de 1Mbps. Já os órgãos públicos devem ter acesso gratuito à rede, que estará aberta para a população no Parque da Lagoa, por meio de uma rede sem fio.
Metade dos 1,6 mil habitantes da Lagoa dos Três Cantos vive na zona urbana, que será atendida pela primeira fase do projeto. A outra metade deve esperar pela construção de mais 80 quilômetros de rede para levar a tecnologia às cerca de 270 propriedades rurais, segundo Edio Schrader, chefe de gabinete da prefeitura e coordenador do projeto. A nova etapa deve exigir mais R$ 500 mil em investimentos.
Para financiar o próximo estágio, a prefeitura busca uma parceria com cooperativas da região que têm os produtores rurais de Lagoa entre seus associados. A ideia é de que organizações como Cotrijal, Cotrisoja, Sicredi, Cooperativa Santa Clara e Coprel colaborem com recursos para a conclusão do projeto, levando internet a 100% dos três-cantenses. "Vamos chamar as cooperativas para mostrar o que vai ser necessário em apoio financeiro", diz Schrader. Com a construção da estrutura, Lagoa dos Três Cantos fica pronta para levar adianta a cooperação firmada entre a Associação dos Municípios do Alto Jacuí (Amaja) e a Telebras, em março do ano passado.para o desenvolvimento de um projeto de cidades digitais na região. Foi o primeiro acordo dessa natureza assinado pela companhia no Rio Grande do Sul.
Tecnologia marca atendimento de saúde
Inovações em tecnologia não são novidade para os habitantes de Lagoa dos Três Cantos. Há noves anos, contam com um sistema de telemedicina. A prefeitura mantém um convênio com a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre para que os pacientes sejam atendidos na cidade, com suporte de especialistas do hospital da Capital, que têm acesso a exames dos pacientes. "Em vez de ser deslocado para diagnóstico, recebe o tratamento aqui e só sai para ter atendimento nos centros de referência", afirma Edio Schrader, chefe de gabinete da prefeitura. Com a melhoria da conexão à internet, a administração pretende ampliar a parceria. "Poderá ter um significativo incremento de exames com análises em tempo real por especialistas que qualquer parte do mundo", prevê o prefeito Ernor Weber.
Aposta na educação e teletrabalho
A universalização do acesso à rede em Lagoa dos Três Cantos marca uma aposta da prefeitura local na qualificação dos jovens e na oferta de novas oportunidades de emprego por meio de sistemas de teletrabalho.
Na educação, a prefeitura coloca em prática neste ano o projeto Um Computador para Cada Aluno – UCA. A ideia é de que as crianças possam empregar os equipamentos para utilizar a internet durante as aulas e complementar as lições em casa, com auxílio da rede e acompanhamento dos pais.
Segundo Edio Schrader, chefe de gabinete da prefeitura e coordenador do Digitallagune, serão distribuídos 220 notebooks para professores e alunos de duas escolas. "Isso ajuda a criar uma cultura digital, preparando os alunos para o mercado de trabalho", afirma. O treinamento dos moradores para novas atividades profissionais também é alvo de uma iniciativa da prefeitura que subsidia a seus habitantes cursos profissionalizantes de uma escola técnica de informática. A administração paga 40% da mensalidade em cursos ligados à área de informática.
O objetivo é formar mão de obra para atrair empresas interessadas em montar unidades para a prestação de serviços por meio da internet. Assim, uma empresa de design de Porto Alegre, por exemplo, poderia contratar profissionais em Lagoa dos Três Cantos, que receberiam suas tarefas e entregariam seus serviços por meio da rede. O modelo é conhecido como teletrabalho. "O teletrabalho é uma novidade que estará ao alcance dos munícipes, com novas empresas se instalando em Lagoa dos Três Cantos, aproveitando a mão de obra três-cantense, fazendo da casa de cada cidadão um escritório virtual", afirma o prefeito Ernor Weber.
A prefeitura sonha em tornar Lagoa dos Três Cantos a Capital Nacional do Teletrabalho. Por isso, trabalha para atrair empresas que tenham interesse em recrutar teletrabalhadores e planeja a realização de um seminário sobre o tema.
Dessa forma, a prefeitura pretende incentivar a permanência dos jovens no município, que poderiam trabalhar sem ter de deixar sua cidade. O mesmo vale para os filhos de produtores rurais. "Queremos fazer com que o jovem possa se manter no município. Há um estilo de vida bom por aqui", afirma Schrader, que aponta o teletrabalho como alternativa para a grande concentração da população em grandes cidades. "Antes era preciso viajar. Agora, não há mais distâncias", compara Schrader.
O projeto ainda contempla a qualificação da administração pública, com interligação em rede da prefeitura, secretarias e demais unidades como escolas e posto de saúde. Além disso, a área de segurança receberá o auxílio de câmeras de vigilância que serão instaladas em pontos estratégicos para monitoramento de todo o perímetro urbano.
Governo prevê banda larga em 60% das casas em 2014
O projeto da ampliação do acesso à internet no município de Lagoa dos Três Cantos segue as características do Plano Nacional de Banda Larga, projeto do governo federal que pretende levar a internet a todas as localidades do País. Até 2014, a meta é de elevar para 60% o total de casas brasileiras com acesso rápido à rede, contra os atuais cerca de 27%.
Para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o Plano Nacional de Banda Larga será "a grande ferramenta" para que o governo federal atinja as metas fixadas no Plano Plurianual de levar a internet a todos os municípios do País. "É por isto que queremos que as empresas não deixem de lado os investimentos nas regiões com menor densidade populacional e que proporcionam menor faturamento, como cidades do interior do Norte e Nordeste". Para isso, segundo o ministro, o governo federal revitalizou a Telebras com o objetivo de atuar, principalmente, na construção de redes de infraestrutura de telecomunicações. O ministro lembra que uma das prioridades é baratear o preço das assinaturas de internet. "É absolutamente importante para o desenvolvimento do País. As pessoas têm de ter acesso às informações. Isso ajuda no processo educativo e de difusão cultural, além de melhorar a produtividade no trabalho", analisa.
Para isso, governo e operadoras fizeram acordo para que banda larga popular fosse ofertada aos usuários. Segundo o ministro, empresas de telefonia móvel e fixa aderiram à proposta. "Não colocamos dinheiro público nisso. As empresas assumiram o compromisso de ofertar esse serviço", disse o ministro.
O preço cobrado pela internet poderá ficar em R$ 29,90. Segundo o ministro, a ideia é reduzir as diferenças de preço cobradas em diversas partes do País. "Precisamos fazer avançar esse plano em todo o Brasil. No Amapá, custa R$ 250,00 a mesma conexão que você tem em São Paulo por R$ 29,90", explicou, acrescentando que a competição entre as empresas poderá fazer os preços cair ainda mais.